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13 de maio de 2016

Capa e trecho de “The Hammer of Thor” por Rick Riordan

Ao mencionarmos Thor a primeira memória que nos vêm à cabeça são dos cabelos loiros e os músculos de Chris Hemsworth, mas a Marvel não é a única que está fazendo um remix da mitologia nórdica. O autor Rick Riordan já falou sobre as mitologias grega e egípcia com Percy Jackson e os Olimpianos e As crônicas dos Kane, agora está escrevendo sobre o panteão nórdico com a série Magnus Chase e os Deuses de Asgard.
O primeiro livro dessa série foi lançado mundialmente em outubro do ano passado, A espada do verão, pela editora Intrínseca, introduzindo os leitores ao protagonista que se parece com o Kurt Cobain, um adolescente sem-teto cuja vida virou de cabeça para baixo.


Nesse outono será publicado o segundo livro da série, The Hammer of Thor. Como o título sugere, o livro irá seguir uma das linhas sem resolução de A espada do verão: a questão do desaparecimento de Mjolnir. 


 SINOPSE:
O martelo de Thor sumiu novamente. O deus do trovão tem o hábito perturbador de perder sua arma - a força mais poderosa nos nove mundos. Mas desta vez o martelo não apenas sumiu, ele caiu em mãos inimigas. Se Magnus Chase e seus amigos não conseguirem recuperar o martelo rapidamente, os mundos mortais estarão indefesos contra um ataque de gigantes. Ragnarok começará. Os nove mundos irão queimar. Infelizmente, a única pessoa que pode mediar um acordo para o retorno do martelo é o pior inimigo dos deuses, Loki - e o preço que ele quer é muito alto.


TRECHO
Capítulo Um: 
Por favor, você poderia parar de matar meu bode?

Aprendi minha lição. Se você levar uma Valquíria para tomar um café, vai ficar para trás com a conta e um corpo.
Não via Samirah al-Abbas há quase seis semanas, então quando ela me ligou do nada e disse que precisávamos falar sobre um assunto de vida ou morte, concordei no mesmo instante.
Tecnicamente já estou morto, o que significa que todo o negócio de vida ou morte não se aplica, mas mesmo assim… Sam parecia ansiosa.
Ela ainda não estava lá quando eu cheguei ao Thinking Cup na Rua Newbury. Como sempre o lugar estava cheio, então entrei na fila para pegar um café. Alguns segundos depois, Sam voou para dentro, literalmente, por cima das cabeças dos frequentadores do café.
Ninguém piscou. Os mortais comuns não são bons em perceber magia, o que é uma sorte, se não os moradores de Boston iriam passar a maior parte do tempo em pânico, correndo de gigantes, trolls e einherjar com machados e cafés.
Sam caiu perto de mim, usando seu uniforme da escola, tênis brancos, uma camisa de manga comprida azul-marinho com o logo da King Academy. Seu hijab verde cobria seu cabelo. Uma machadinha estava pendurada em seu cinto. Tinha certeza de que uma machadinha não fazia parte do seu estilo.
Por mais feliz que eu estivesse em vê-la, notei que a pele debaixo de seus olhos estavam mais escuras do que o normal. Ela estava cambaleando.
— Oi, — eu disse. — Você está horrível.
— É bom te ver também, Magnus.
— Não, digo… não horrível tipo, diferente do horrível normal. Apenas horrível do tipo exausta.
— Quer que eu pegue uma pá para que você possa cavar ainda mais?
Levantei minhas mãos, me rendendo.
— Onde você esteve no último mês e meio?
Os ombros dela se tensionaram.
— Meus trabalhos do semestre estão me matando. Estou dando aula para crianças depois da escola. Então, como você deve se lembrar, eu trabalho meio período colhendo as almas dos mortos e realizando missões secretas para Odin.
— As crianças de hoje e suas agendas ocupadas.
— Além disso tudo… tem a escola de aviação.
— Escola de aviação? — Nos arrastamos para a frente na fila. — Tipo aviões? — Sabia que o objetivo de Sam era se tornar um piloto profissional um dia, mas não sabia que ela já estava tendo aulas. — Você pode fazer isso aos dezesseis anos?
Os olhos dela brilharam de animação.
— Meus avós nunca poderiam bancar, mas os Fadhlans têm um amigo que administram uma escola de aviação. Eles finalmente convenceram Jid e Bibi…
— Ah! — Eu sorri. — Então as aulas foram um presente de Amir.
Sam corou. Ela é a única adolescente que eu conheço que tem um noivo e é fofo como ela fica aturdida quando fala de Amir Fadhlan.
— Essas aulas foram a coisa mais atenciosa… — Ela suspirou melancolicamente. — Mas chega disso. Não te trouxe aqui para falar sobre a minha agenda. Temos um informante para encontrar.
— Um informante?
— Essa pode ser a chance que estou esperando. Se a informação dele for boa…
O telefone de Sam tocou. Ela o pegou em seu bolso, checou a tela e xingou.
— Eu tenho que ir.
— Você acabou de chegar.
— Coisas de Valquírias. Um possível código três-oito-um: morte heróica em progresso.
— Você está inventando isso.
— Não estou.
— Então, o quê? Alguém pensa que vai morrer e envia uma mensagem: “Morrendo! Preciso de uma Valquíria AGORA!” seguido de vários emoticons tristes?
— Eu me lembro de levar sua alma para Valhalla. Você não me mandou uma mensagem.
— Não, mas eu sou especial.
— Pegue uma mesa lá fora — ela disse. — Encontre com o meu informante. Voltarei assim que puder.
— Eu nem sei como é o seu informante.
— Você vai reconhecê-lo quando o ver, — Sam prometeu. — Seja corajoso. Ah, e pegue um bolinho para mim.
Ela saiu da loja como a Supermulçumana, me deixando para pagar pelo nosso pedido. Peguei dois cafés grandes, dois bolinhos e sentei em uma mesa do lado de fora.
A primavera havia chegado cedo em Boston. Manchas de neve suja ainda se agarravam ao meio-fio como placa bacteriana, mas as cerejeiras estavam repletas de botões brancos e vermelhos. Propagandas com roupas pastéis e floridas apareciam nas boutiques de alta costura. Os turistas passeavam desfrutando do sol.
Sentado do lado de fora usando meus jeans recém-lavados, uma camiseta e uma jaqueta jeans, eu percebi que essa seria a primeira primavera em três anos que eu não era mais um sem-teto.
Em março do ano passado, estava mendigando em lixeiras. Dormindo debaixo de pontes no Jardim Público, saindo com meus amigos Hearth e Blitz, evitando os policiais e apenas tentando permanecer vivo.
Então, há dois meses, morri lutando contra um gigante de fogo. Acordei no Hotel Valhallla como um dos guerreiros de Odin.
Agora tinha roupas limpas. Tomava banho todos os dias. Dormia em uma cama confortável todas as noites. Podia sentar na mesa desse café, comer algo pelo qual eu realmente paguei, sem me preocupar com as pessoas me forçando a ir embora.
Desde que renasci, me acostumei com muitas coisas esquisitas. Viajei pelos Nove Mundos encontrando deuses nórdicos, elfos, anões e vários outros monstros com nomes que eu não tenho capacidade de pronunciar. Ganhei uma espada mágica que no momento estava pendurada no meu pescoço na forma de um pingente de runa. Até tive uma conversa delicada com minha prima Annabeth sobre os deuses gregos que circulam em Nova York e que tornavam a vida dela difícil. Aparentemente a América do Norte estava entupida de deuses antigos. Tínhamos uma completa infestação.
Tudo isso eu aprendi a aceitar.
Só que voltar a Boston em um belo dia de primavera, aproveitando como se eu fosse um garoto mortal comum?
Aquilo me era estranho.
Analisei os grupos de pedestres, procurando pelo informante de Sam. Você irá reconhecê-lo assim que vê-lo, ela prometeu. Me perguntei que tipo de informação o cara tinha e porque Sam considerava isso questão de vida ou morte.
Meu olhar fixou-se na frente de uma loja no fim do quarteirão. Em cima da porta, o letreiro de latão e prata brilhava exuberante: Blitzen’s Best, mas a loja estava fechada. A porta da frente era de vidro e estava coberta de papel por dentro, com uma mensagem escrita de qualquer jeito em canetinha vermelha: Fechado para reforma. Voltamos logo!
Queria perguntar a Samirah sobre aquilo. Eu não tinha ideia do porquê meu amigo Blitz ter sumido de repente. Um dia, há algumas semanas, simplesmente passei pela loja e a encontrei fechada. Desde então, não ouvi falar de Blitzen ou Hearthstone, o que não era do feitio deles.
Pensar sobre isso me deixou tão preocupado que quase não vi nosso informante até ele parar bem em cima de mim. Porém, a Sam estava correta: ele meio que se destacava. Não era todo dia que você via um bode de sobretudo.
Um chapéu estava posicionado entre seus chifres enrolados. Um óculos de sol estava apoiado em seu nariz. O sobretudo se embolava com seus cascos traseiros.
Apesar do disfarce eficiente, o reconheci. Eu matei e comi esse bode em particular em outro mundo, o que é o tipo de esperiência de aproximação que você não esquece.
— Otis, — falei.

— Shhh, — ele disse. — Estou disfarçado. Me chame de… Otis.
— Eu não acredito que um disfarce funcione assim, mas tudo bem.
Otis, vulgo Otis, subiu na cadeira que reservei para Sam. Ele sentou nas suas ancas e colocou as patas dianteiras na mesa.
— Onde está a Valquíria? Ela está disfarçada também? — ele bisbilhotou o saco de bolinhos mais próximo como se Sam pudesse estar escondida lá dentro.
— Samirah teve ir colher uma alma, — eu disse. — Ela deve voltar logo.
— Deve ser bom ter um propósito na vida, — ele suspirou. — Obrigado pela comida.
— Isso não é para…
Otis pegou o bolinho de Sam e começou a comer com o papel e tudo.
Na mesa ao nosso lado um casal idoso olhou para meu amigo bode e sorriram. Talvez o senso mortal deles tenha visto uma criança fofinha ou um cachorro de estimação engraçado.
— Então, — eu estava com dificuldades de assistir Otis devorar a comida, espalhando migalhas nas lapelas do seu casaco. — Você tem algo para nos contar?
Otis arrotou.
— É sobre o meu mestre.
— Thor.
— Sim ele, — Otis estremeceu.
Se eu trabalhasse para o deus do trovão também estremeceria quando ouvisse o nome de Thor. Otis e seu irmão, Marvin, puxavam a carruagem do deus. Eles também forneciam a Thor um suprimento eterno de carne de bode. Toda noite, Thor os matava e os comia no jantar. Toda manhã, Thor os ressuscitava. É por isso que vocês devem estudar, crianças… para quando crescerem não precisarem trabalhar como um bode mágico.
— Finalmente tenho uma pista, naquele certo objeto do meu mestre que desapareceu, — Otis disse.
— Quer dizer o mar…?
— Não fale isso alto! — Otis advertiu. — Mas sim… o mar dele.
Voltou para janeiro quando conheci o deus do trovão pela primeira vez. Bons momentos na fogueira do acampamento ouvindo Thor peidar, falar sobre seus programas de TV favoritos, peidar, reclamar do sumiço do seu martelo, que ele usava para matar gigantes e assistir aos seus programas de TV favoritos, e peidar.
— Ele ainda está desaparecido? — perguntei.
Otis bateu suas patas dianteiras na mesa.
— Bem, não oficialmente, claro. Se os gigantes tivessem certeza que Thor está sem seu você-sabe-o-quê, eles invadiriam o mundo mortal, destruiriam tudo e acabariam comigo. Mas a versão não-oficial é… sim. Estamos procurando por meses, mas sem sorte. Os inimigos de Thor estão ficando mais ousados. Eles sentem a fraqueza. Disse ao meu terapeuta que me lembra de quando eu era uma criança na prisão de bodes e os valentões ficavam me encarando. — Otis ficou com o olhar distante olhar em seus olhos de pupilas amarelas em formatos de fenda. — Acho que foi quando meu estresse traumático começou.
Era a minha deixa para passar as próximas horas falando sobre Otis e seus sentimentos. Como sou uma pessoa horrível, não fiz isso.
— Otis, a última vez que te vimos, encontramos para Thor um bom bastão de ferro para ele usar como arma substituta. Ele não está indefeso. — eu disse.
— Não, mas o bastão não é tão bom quando o… mar. Não passa o mesmo medo para os gigantes. Também, Thor fica irritado ao tentar assistir seus programas no bastão. A tela é pequena e a resolução é terrível. Eu não gosto quando Thor fica irritado. É mais difícil para eu encontrar meu lugar feliz.
Muito disso não fazia sentido. Por que Thor teria tanta dificuldade em localizar seu próprio martelo? Como ele tinha conseguido manter seu desaparecimento dos gigantes por tanto tempo? E a ideia de que, Otis, o bode, teria um lugar feliz.
— Então Thor quer a nossa ajuda, — eu adivinhei.
— Não oficialmente.
— Claro que não. Todos teremos que usar sobretudos e óculos.
— Essa é uma ideia excelente, — disse Otis. — De qualquer forma, disse para a Valquíria que a manteria informada já que ela é a responsável, você sabe, das missões especiais de Odin. Essa é a primeira boa pista que consegui sobre a localização do objeto. Minha fonte é confiável. Ele é outro bode que vai no meu psiquiatra. Ele ouviu uma conversa em seu celeiro.
— Você quer que a gente investigue uma pista baseado na fofoca de celeiro que você ouviu na sala de espera do seu psiquiatra?
— Isso seria ótimo! — Otis se inclinou para frente e fiquei com medo que ele caísse da cadeira. — Mas vocês terão que ser cuidadosos.
Precisei me segurar muito para não dar risada. Eu tinha jogado pegue-a-bola-de-lava com os gigantes de fogo. Tinha voado em uma águia pelos telhados de Boston. Tirei a Serpente do Mundo da Baía de Massachusetts e derrotei o Lobo Fenris com um novelo de lã. Agora esse bode estava me dizendo para tomar cuidado.
— Então onde está o mar? — eu perguntei. — Jotunheim? Niflheim? Thorfartheim?
— Você está brincando. — Os óculos de sol deslizaram no focinho dele. — Mas o mar está em uma outra localidade perigosa. Está em Provincetown.
— Provincetown, — eu repeti. — Na ponta do Cabo Cod.
Eu tinha vagas memórias daquele lugar. Minha mãe me levou em um fim de semana de verão quando eu tinha oito anos. Me lembrava das praias, doces, rolinhos de lagosta e várias galerias de arte. A coisa mais perigosa que encontramos foi uma gaivota com síndrome do intestino irritável.
Otis abaixou sua voz.
— Há uma tumba em Provincetown, a tumba de uma alma penada.
— Uma o quê?
— Bem, uma alma penada é uma criatura morta-viva poderosa que gosta de colecionar armas mágicas. — Otis estremeceu. — Desculpe, tenho dificuldade em falar de almas penadas. Elas me lembram do meu pai.
Isso levantou uma quantidade significativa sobre a infância de Otis, mas decidi deixá-las para o seu terapeuta.
— Existem muitos covis de vikings mortos-vivos em Provincetown? — eu perguntei.
— Até onde sei, apenas um. Mas é o suficiente. Se o objeto em questão estiver lá, será difícil pegá-lo de volta… ele está no subterrâneo e guardado por uma magia poderosa. Você precisará dos seus amigos, o anão e o elfo.
Isso seria incrível, se eu soubesse quem esses amigos eram. Esperava que Sam soubesse mais do que eu.
— Por que o Thor não pode ir checar essa tumba? — perguntei. — Espere… deixe-me adivinhar. Ele não quer chamar atenção. Ou ele quer que nós tenhamos a chance de ser heróis. Ou é um trabalho duro e ele tem uns programas pra assistir.
— Pra ser justo, — respondeu Otis — a nova temporada de Jessica Jones acabou de sair.
Não é culpa do bode, disse a mim mesmo. Ele não merece apanhar.
— Certo, — eu disse. — Quando Sam chegar, vamos discutir a estratégia.
— Não sei se devo esperar com você. — Otis lambeu uma migalha da sua lapela. — Deveria ter mencionado isso antes, mas sabe, alguém, ou alguma coisa, tem me seguido.
Os pelos na minha nuca formigaram.
— Você acha que foi seguido até aqui?
— Não tenho certeza, — Otis respondeu. — Espero que meu disfarce os tenha confundido.
Maravilha, pensei.
Observei a rua, mas não vi ninguém à espreita.
— Você conseguiu uma boa olhada nesta alguém/alguma coisa?
— Não, — Otis admitiu — Mas Thor tem todos os tipos de inimigos que querem nos impedir de pegar seu, seu… mar de volta. Eles não iam querer que eu dividisse informações com você, especialmente essa última parte. Você precisar avisar a Samirah que…
TUM.
Por morar em Valhalla, deveria estar acostumado a ver armas mortais voando do nada, mas ainda assim fiquei surpreso quando um machado brotou do peito peludo de Otis. Corri para o outro lado da mesa para ajudá-lo. Como filho de Frey, deus da fertilidade e da saúde, e posso fazer umas mágicas de primeiros-socorros bem incríveis, com tempo suficiente. Mas assim que toquei em Otis, senti que já era tarde demais. O machado havia perfurado seu coração.
— Ó, céus. — Otis cuspiu sangue. — Vou… morrer… agora.
A cabeça dele pendeu para trás. Seu chapéu rolou pelo asfalto. A senhora sentada atrás de nós gritou como se só agora tinha percebido que Otis não era um filhote de cachorro fofinho. Ele era, na verdade, um bode morto.
Examinei os telhados do outro lado da rua. A julgar pelo ângulo do machado, ele deve ter sido jogado de algum lugar lá em cima… sim. Vi um lampejo de movimento, assim que o atacante saiu do meu campo de visão, uma figura de preto usando algum tipo de capacete de metal.
O copo agradável de café já era. Puxei o pingente mágico do colar no meu pescoço e corri atrás do assassino de bode.

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